Instituída por decreto desde agosto, a Coordenadoria de Políticas para Povos Indígenas (CPPI) do estado de São Paulo oficializará, no próximo sábado (11), às 11h, o nome do cacique Cristiano Kiririndju à frente do projeto, em cerimônia em Ubatuba, no Litoral Norte de SP.
Natural de Ubatuba e indígena da Aldeia Renascer — local onde será realizada a cerimônia que deve contar com a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) –, Kiririndju tem 39 anos e é de etnia tupi-guarani.
Ele ainda reside na Aldeia Renascer, que conta com centro cultural, posto médico e escola. É na Escola Estadual Aldeia Renascer que o cacique, servidor público, atuou por quase 20 anos como professor e coordenador pedagógico.
Cacique Cristiano Kiririndju, da Aldeia Renascer, em Ubatuba, SP — Foto: Arquivo pessoal
Formado em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (USP), o cacique diz que, impulsionado pelo pai, sempre esteve à frente de lutas em prol da população indígena da região.
“Sempre estive à frente da luta indígena, através do meu próprio pai, Awa. Fui eleito presidente do conselho estadual e tive sucesso nas minhas atividades, buscando parcerias e articulações em prol do povo indígena, execuções nos territórios, priorizando a infraestrutura”, contou.
Kiririndju também celebrou a oficialização de uma Coordenadoria voltada apenas para os indígenas e explicou que essa população terá uma abertura para fazer reivindicações.
“É um momento histórico e estou muito feliz de fazer parte dessa construção, de assumir essa Coordenadoria e levar as demandas da população indígena”.
“A Coordenadoria representa um marco para o estado, uma abertura para que os povos indígenas possam articular reivindicações, discussões sobre educação, saúde, meio ambiente, por exemplo. Temos várias frentes e pautas indígenas que estavam sendo discutidas somente na esfera federal”, declarou.
Indígenas da aldeia Renascer, em Ubatuba — Foto: Renascer Ywyty Guaçu
Em 2022, ele foi eleito presidente do Conselho Estadual dos Povos Indígenas e, neste ano, levou a proposta de desmembramento da Coordenadoria dos Povos Indígenas — que já existia, mas era dividida com a Coordenadoria voltada à População Negra.
“Eu consegui mostrar que [a Coordenadoria] nunca funcionou para a população indígena. Nunca tivemos ação de grande protagonismo. Consegui levar ao secretário e ele acatou, percebeu que realmente precisava ter esse desmembramento e, graças ao entendimento dele, a proposta foi levada ao governador, que também entendeu que era muito viável”, explicou.
Em setembro, Kiririndju começou a trabalhar efetivamente na Coordenadoria — e de Ubatuba, sua terra natal, surgiram demandas e reivindicações da população indígena.
“Nós já estamos atuando em prol das demandas da nossa região. Conseguimos parceria com a Secretaria de Segurança Pública, que criou o Núcleo de Ação Local (NAL). Pela primeira vez teremos um conselho dentro da SSP para saber o que acontece dentro dos territórios indígenas”, disse.
A cerimônia de posse está marcada para acontecer neste sábado e deve contar com cerca de 700 indígenas de diversas aldeias. A presença do governador também e do secretário de Justiça e Cidadania, Fábio Prieto, também são esperadas. Durante a cerimônia haverá apresentação de dança e rituais ancestrais.
Cacique Cristiano Kiririndju, coordenador da CPPI, em SP — Foto: Arquivo pessoal
A coordenadoria
A Coordenadoria de Políticas para a População Indígena (CPPI) nasceu do decreto publicado no dia 4 de agosto deste ano e é vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania. Além de corpo técnico, a CPPI conta com célula de apoio administrativo e comitê intersetorial de assuntos indígenas.
Segundo o decreto, o coordenador tem como objetivo propor ao secretário de Justiça e Cidadania programas e trabalhos que forem necessários, além de coordenar, orientar e acompanhar as atividades da Coordenadoria.
Aldeia Renascer, em Ubatuba (SP) — Foto: Divulgação/Aldeia Renascer
Aldeia Renascer
A aldeia Renascer foi retomada em 1999 e está em processo de identificação pela Funai. A expectativa é que esse processo de identificação seja concluído neste ano.
O local constantemente recebe visitas agendadas de estudantes e pessoas interessadas em conhecer a aldeia. No local, são desenvolvidos projetos de valorização da cultura indígena e preservação do meio ambiente.
Atualmente, a Aldeia Renascer conta com 23 famílias, sendo 105 pessoas e 63 crianças que vivem da agricultura familiar e do cultivo do palmito pupunha e da pesca no local.